Foto: Nelson Jr./STF
O
presidente Jair Bolsonaro disse ter sido “apunhalado” e “traído” pelo
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu
a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. A
interlocutores do Palácio do Planalto, Bolsonaro deixou clara uma “obsessão” em
encontrar uma forma de nomear o delegado amigo da família para o cargo.
Em sua
decisão, Moraes disse que havia indícios de desvio de finalidade na escolha de
Ramagem. O magistrado citou declaração do ex-ministro da Justiça Sérgio
Moro de que Bolsonaro queria uma pessoa de “contato pessoal” dele no
comando da PF por conta de inquéritos envolvendo os filhos.
Os
auxiliares do Planalto afirmaram que Bolsonaro estava certo que não enfrentaria
resistência em nomear um amigo de seus filhos para chefiar a PF. O presidente
disse à sua equipe que o ministro do Supremo feriu a independência dos
Poderes, uma observação que reiterou na cerimônia de discurso de posse dos
dois novos ministros no Planalto, André Mendonça (Justiça e Segurança Pública),
e José Levi (Advocacia Geral da União).
Em
conversas reservadas ao longo da tarde, o presidente, os ministros militares e
o setor jurídico do Planalto disseram estar surpresos porque apostavam que a
escolha de José Levi para a AGU seria entendida como uma moeda de troca, um
acordo de paz, com o Supremo. Isso porque Levi tem ligações com o ministro
Gilmar Mendes e, principalmente, com Alexandre de Moraes. O novo ministro da
AGU foi secretário executivo de Moraes na pasta da Justiça durante o governo
de Michel Temer. Por isso, o clima no Planalto era de irritação de
neófitos que tinham levado uma “pancada”.
Nas
conversas com auxiliares, Bolsonaro repetia que “tudo foi feito dentro dos
critérios da Lei”. Lembrou que Alexandre Ramagem é delegado de carreira e
preenche os requisitos para o cargo. Mas nada falou sobre as críticas recebidas
pelo governo pela proximidade de sua família com o delegado.
Ao
longo da semana, porém, circulou nas redes sociais foto de Ramagem numa festa
com o vereador Carlos Bolsonaro, filho 02 do presidente. O delegado foi
responsável pela segurança do então candidato à Presidência após o atentado em
Juiz de Fora, em setembro de 2018. Estava no comando da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) por indicação dos filhos do presidente.
A
decisão de Moraes ainda acabou com uma expectativa no Planalto de que o
noticiário com críticas a Bolsonaro “esfriaria”. Para não desmobilizar a
“tropa” do Palácio, o presidente disse aos interlocutores que é ele quem
“manda” e que a Advocacia-Geral da União vai recorrer.
Bolsonaro
e seus auxiliares também não esconderam a irritação com uma comparação, no
noticiário e nas redes sociais, entre a atual crise e dramas vividos por outros
presidentes. Em 2016, o ministro Gilmar Mendes impediu a nomeação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil por Dilma
Rousseff. Dois anos depois, a ministra Cármen Lúcia, à frente da Corte,
suspendeu a posse de Christiane Brasil para a pasta do Trabalho no governo
Temer. Logo, Bolsonaro não pode ser assertiva em dizer que o ato de Moraes é
uma perseguição ou interferência inédita do Judiciário em nomeações do
Executivo.
ESTADÃO
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