Enquanto
o presidente Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia travam um queda de braço a respeito
da formação da base aliada no Congresso, integrantes da equipe econômica
apostam no presidente da Câmara como o fiador da reforma da Previdência e
avaliam que ele pode blindar o texto de alterações que comprometeriam o
resultado fiscal da proposta, durante a tramitação no Congresso.
Frustrados
com os tropeços políticos nos últimos dias, integrantes do Ministério da
Economia avaliam que alguma reforma será aprovada, já que hoje há uma
convergência maior em relação ao tema, principalmente entre os parlamentares,
prefeitos e governadores, que se beneficiam com as novas regras em relação a
professores e policiais militares, categorias que têm impacto na folha de
inativos. A questão fundamental é: qual reforma sairá do Congresso. Por isso, a
aposta no papel de Maia para evitar uma desidratação significativa do texto,
num cenário em que o próprio presidente dá sinais de que não irá se envolver.
Maia
tem sido um entusiasta da aprovação da reforma e passou a destacar que
Bolsonaro foi contra as mudanças nas regras da aposentadoria no passado e que
agora se mostra dúbio em relação ao tema, deixando os esforços restritos à
equipe econômica. Em conversas nos últimos dias, Maia levantou esse ponto ao
ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem tem boa relação. Aliados de Maia
dizem que a mensagem é a de que o Palácio do Planalto está "fritando"
Guedes.
O
ministro Paulo Guedes defende um impacto fiscal de mais de R$ 1 trilhão em dez
anos, mas pontos do texto que garantem essa economia serão alterados na
tramitação no Congresso. São principalmente três as iniciativas que garantem
esse impacto fiscal e que o Ministério da Economia gostaria de que, na medida
do possível, fossem blindadas com a ajuda de Maia: as regras de transição, a
idade mínima (62 para mulheres e 65 para homens) e as novas regras para pagamento
de pensões. Tanto o BPC (Benefício de Prestação Continuada) quanto a
aposentadoria rural têm impacto fiscal menor. Por isso, a equipe econômica já
trabalha com a derrubada desses pontos na tramitação.
Os
técnicos do Ministério da Economia aguardam as movimentações nesta semana para
avaliar se há ainda a possibilidade de a reforma ser aprovada neste semestre na
Câmara, algo em que parlamentares experientes não apostam mais. Um dos
indicativos relevantes será a nomeação do relator na CCJ (Comissão de Constituição
e Justiça), que era para ter saído na semana passada. A depender do humor dos
líderes partidários com o governo, essa indicação pode se alongar ainda mais -
amanhã Guedes fará uma exposição da reforma na comissão para os parlamentares.
Integrantes
de partidos como DEM, PRB e PSD reclamam dos ataques nas redes sociais a Maia,
que seriam promovidos pelos apoiadores do presidente, numa estratégia, segundo
eles, articulada por Carlos Bolsonaro, filho do presidente. De acordo com essa
análise, Bolsonaro não quer se desgastar com parte do eleitorado na defesa da
matéria. Além disso, com os ataques à "velha política" estaria
sinalizando com um tema popular para a sua base, num momento em que o Ibope
mostrou queda de popularidade.
Blog da Julia Duailibi
Nenhum comentário:
Postar um comentário