O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu que poderá sair do PSD para ser candidato à Presidência da República. O destino preferido, até agora, é o MDB. Dono de apenas 2% das intenções de votos, Meirelles disse, porém, que tem conversado "com vários partidos" e feito pesquisas qualitativas para medir o seu potencial de crescimento.
© André Dusek/Estadão Meirelles em seu gabinete em Brasília;
ministro pode ser o ‘candidato do governo’ ao Planalto.
“A questão que estamos discutindo é qual será
o meu partido. Kassab vai se posicionar em relação a fatos concretos: ter um
candidato a presidente da República ou ter candidato a vice-governador de São
Paulo. No caso, ele próprio”, afirmou Meirelles ao Estado. A referência ao
ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, não foi à toa.
Chefe do PSD, Kassab negocia para ele a vaga de vice na provável chapa a ser
liderada pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), ao governo paulista. Em
troca, o PSD está disposto a apoiar a candidatura do governador tucano Geraldo
Alckmin ao Palácio do Planalto, mesmo tendo Meirelles como presidenciável.
O sr. já sondou marqueteiros, como Duda Mendonça, para fazer sua
campanha. O que falta para definir a candidatura?
De fato, tenho um assessor que conversou com Duda Mendonça, com Eduardo
Fischer, com o próprio Fábio Veiga, que eu contratei para fazer o Twitter e o
Facebook, e com outros. Estou fazendo pesquisas qualitativas que mostram o
potencial de crescimento e vamos avaliar o cenário. Não tomo decisões por um
lampejo. Fiz um curso de 30 dias, muito tempo atrás, sobre tomada de decisões.
Chamava-se Odisseia. Decisões instintivas tendem a ser erradas.
O PSD, seu partido, deve apoiar a candidatura do governador
Geraldo Alckmin (PSDB) por causa de um acerto em São Paulo. Diante disso, o sr.
pode se filiar ao MDB do presidente Temer?
Eu tenho conversado com vários partidos. Evidentemente, o MDB tem grande tempo
de TV, mas primeiro tenho de tomar a decisão. A questão que estamos discutindo
é qual será o meu partido. Tive ótimas conversas com Kassab (ministro Gilberto
Kassab). Ele vai se posicionar em relação a fatos concretos: ter um candidato a
presidente da República ou ter candidato a vice-governador de São Paulo. No
caso, ele próprio.
O sr. disse ao ‘Estado’ que uma eventual candidatura do
presidente Temer não inviabiliza a sua. Mas o sr. e ele não disputam o mesmo
eleitorado?
É absolutamente plausível ter dois
candidatos. Nada impediria e verificaríamos quem iria para o segundo turno ou
não. Dito isso, acho que a melhor estratégia é ter um único candidato para
representar esse programa de reformas que está sendo conduzido. Eu e o
presidente estamos juntos nesse projeto e vamos chegar a um acordo.
Pode haver uma chapa pura do MDB, tendo o sr. de vice?
Eu não sou candidato a vice. Não tenho interesse. Já fui convidado para ser
candidato a vice da Dilma (Rousseff), em 2010, e do Aécio (Neves), em 2014.
O sr. fala em um candidato único da coligação, mas o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer disputar. Além disso, embora o PSDB não
seja mais da base aliada, o governador Alckmin é do mesmo espectro, de centro.
Acha possível unir todos esses partidos?
Vai depender de os candidatos terem a
disposição de fazer uma composição. Eu tenho e o presidente Temer também. Os
outros eu não sei.
Ainda não se sabe se o ex-presidente Lula poderá ser candidato do
PT. No outro extremo, de direita, está o deputado Jair Bolsonaro (PSC). Se o
centro político não se arrumar logo, não perderá espaço?
A candidatura (de centro) colocada de fato na
mesa é a do Geraldo Alckmin. O Rodrigo Maia está dentro dessa discussão se é
candidato. Certamente haverá um candidato apoiado pelo governo. O mais provável
é ser o presidente ou eu próprio.
No Planalto se diz que o candidato da base deve defender o
“legado do governo”. Mas o sr. defenderia o presidente das denúncias que pesam
contra ele?
Com toda certeza. Trabalho com ele e acredito
que o presidente tem feito uma administração excelente. Sou parte dela. Se for
candidato, defenderei. Não tenho dúvida.
O sr. defende o fim do
auxílio-moradia?
Eu abri mão. De fato, no meu caso, não
preciso. É uma questão complexa. A regra precisa ser melhorada para não
configurar privilégio.
A economia dá alguns sinais de melhora, mas o sr. não capitaliza
isso. Como pretende se tornar conhecido?
Esperamos criar 2,5 milhões de novos empregos neste ano. A inflação está sob
controle. Se os fatos são favoráveis, isso facilita muito a comunicação.
Até agora, o seu discurso é voltado para o ajuste fiscal, um tema
árido para a campanha. Qual será a sua plataforma social?
A
melhor política social que existe é a criação do emprego. Além disso, vamos
reforçar e, se necessário, ampliar o Bolsa Família. Recurso para a saúde é
fundamental, e, para tanto, é necessário crescimento e aumento da arrecadação.
A reforma do ensino médio também foi muito importante. As coisas estão todas
interligadas e a economia está no centro.
Mas o teto de gastos mostra que não é suficiente só arrecadação
para garantir recursos a determinadas áreas. Em saúde, por exemplo, o que houve
foi o congelamento das despesas.
A
emenda do teto preserva o piso de investimento em saúde e educação. Mas é fundamental
aprovar a reforma da Previdência para poder gerar recursos adicionais.
Só que, com a intervenção na segurança do Rio, não se pode votar
a reforma da Previdência, uma bandeira que o sr. perdeu...
A
intervenção no Rio é uma prioridade, mas vai terminar em um certo momento. Aí a
Previdência deverá ser votada. Se não for neste governo, será no próximo e o
resultado da eleição passará a ser mais importante ainda.
Essa intervenção não é uma faca de dois gumes? Ninguém sabe como
vai ser, pode dar errado e, além disso, muitos interpretaram a medida como
eleitoreira.
Não tem interesse eleitoral. Eu acredito que
a intervenção tem todas as condições para ser bem sucedida. O general Braga
Netto é muito competente. Agora, qualquer decisão de governo tem riscos.
Ao que tudo indica, essa campanha será marcada por denúncias. O
sr. não teme se tornar alvo pelo fato de ter presidido o Conselho de
Administração da J&F?
Isso não é um problema porque minha carreira é inquestionável. Não é sujeita a
nenhum tipo de dúvida ou problema e não há segredo no mercado financeiro de São
Paulo. Qualquer pessoa sabe que meu trabalho ali (na J&F) era
exclusivamente dedicado à construção da plataforma digital do Banco Original,
na marginal do Pinheiros, e não na do Tietê (onde fica a sede da J&F
Investimentos).
Vera Rosa e Adriana Fernandes/ Estadão. MSN Brasil
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