Najara Araujo/Câmara dos Deputados |
Um
acordo de bastidores que garantiu o repasse de R$ 5 bilhões a municípios
azeitou as negociações para a votação da Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 18/2020, que adia as eleições municipais para novembro. A negociação
entre partidos aconteceu nos bastidores e só não envolveu três legendas, o
Patriota, o PL e o PSC, que tinham entre os seus deputados maioria contrária à
transferência de datas. O Congresso promulgou, ontem, a agora Emenda
Constitucional 107.
O
acordo mobilizou parte significativa do Centrão, que tem nomes em várias
prefeituras do país e forte influência sobre as votações na Câmara, por conta
do número de votos que exerce. A pressão dos prefeitos também ocorreu nos
bastidores, e foi preciso uma articulação relâmpago para, de terça para quarta-feira,
convencer a equipe econômica do governo e garantir o placar de 407 votos
favoráveis.
Na
segunda-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que
pretendia votar a PEC ainda nesta semana. A negociação dos R$ 5 bilhões vazou
na terça, quando ocorreu uma discussão com a equipe econômica, reticente em
liberar o valor que, na verdade, já estava assinado para o Fundo de
Participação dos Municípios pela Medida Provisória 938/2020, do Poder Executivo
–– que repassou recursos para estados e municípios a fim de atenuar os
prejuízos provocados pela pandemia de coronavírus.
Sob
condição de anonimato, um deputado federal confidenciou ao Correio que, ao
chegar à Câmara para participar da votação da PEC, na quarta, o acordo já
estava fechado. Entre os termos está a determinação de que a verba seja
repassada diretamente para os municípios, que estão na ponta do combate à
covid-19. Apesar disso, ele defendeu a decisão. “Para os municípios, é muito
bom e minimiza as perdas. É, também, uma forma de o parlamentar justificar para
o seu prefeito, para sua base, que mudou a data das eleições, mas compensou com
recurso financeiro. Eu tenho que entender que eles construíram um caminho
sustentável para a gestão pública”, argumentou.
O
relator da PEC, Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR), negou que tenha havido a
negociação e afirmou que o consenso foi criado com “muito trabalho de base”.
Vice-líder do bloco parlamentar PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, Pros
e Avante, Marcelo Ramos (PSD-AM) também não falou em acordo, mas defendeu que o
recurso seja direcionado aos municípios.
“A
verba do governo não é exigência dos prefeitos. É só cumprir o que está na MP
938/2020 desvinculando uma verba da outra. A reivindicação dos prefeitos é
justa. Em relação à eleição, acompanhei muito de perto e foi fundamental a
atuação do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ). Eu votei por não adiar, mas o
presidente tomou para si a responsabilidade de postergar, e mesmo com
resistência de alguns líderes conseguiu convencer a maioria com diálogo. O
ministro (Roberto) Barroso (presidente do Tribunal Superior Eleitoral) também
deixou clara a necessidade”, salientou.
A
Emenda Constitucional 107 adia os dois turnos das eleições municipais de 4 e 25
de outubro para 15 e 29 de novembro. O texto altera todo o calendário eleitoral
para viabilizar o pleito durante a pandemia.
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