Grupo de
estudantes que se autodeclaram pretos e pardos foi desclassificado após
avaliação da UFPE e fez ato nesta terça-feira (12) — Foto: Marina Meireles/G1
O sistema de avaliação das cotas raciais
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está sendo questionado
por um grupo de estudantes autodeclarados pretos e pardos. Pela primeira vez,
a instituição adotou uma avaliação prévia antes da matrícula dos
cotistas. Foram desclassificadas 280 pessoas.
Ao todo, 188 estudantes entraram com recurso
por discordarem do resultado que os impediu de realizar matrícula. Nesta
terça-feira (12), pais e estudantes que se sentiram prejudicados pela avaliação
fizeram um ato em frente à reitoria da instituição para reivindicar
explicações.
De acordo com a UFPE, os estudantes das
costas raciais foram avaliados por 11 comissões formadas por meio de edital
público e integradas por professores, alunos, técnicos e membros da sociedade
civil.
Pedro
Wanderley mostra a declaração de nascido vivo em que consta a cor parda; ele
foi desclassificado após avaliação de cota racial — Foto: Marina Meireles/G1
Aprovado em medicina, o estudante Pedro
Wanderley, 18, tem uma declaração de nascido vivo em que consta a cor parda,
mas foi desclassificado na avaliação presencial feita pela universidade. O
estudante quer respostas sobre o critério de avaliação.
"Foi bem frustrante. Eu já havia
passado [no vestibular] e três pessoas me disseram que eu não sou digno de
entrar na universidade porque eu não tenho a cor que eu sempre achei que tinha.
Outras pessoas, mais claras do que eu, passaram na minha modalidade",
afirmou Wanderley.
A estudante de pedagogia Elisama da Paixão,
23, cursou dois períodos da graduação em uma universidade particular, com o
auxílio de uma bolsa. Ao conquistar uma nota no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) que garantia a sua aprovação pelo sistema de cotas na UFPE, Elisama não
hesitou em comemorar.
Elisama da
Paixão foi surpreendida pela reprovação na cota racial da UFPE — Foto: Marina
Meireles/G1
A alegria, no entanto, durou até a divulgação
da lista de classificados após a avaliação da cor da pele dos candidatos
declarados pretos ou pardos.
"Saí da avaliação convicta porque
sei o que sou, mas a universidade não me viu da mesma forma. Sou pobre,
sobrevivo com um salário mínimo e esse é o meu sonho. Só queremos ser avaliados
dignamente", disse, emocionada.
O aprovado em farmácia Michael Robert da
Silva, 19, também foi desclassificado pela comissão que avaliou a adequação dos
candidatos nas cotas raciais. "A primeira sensação foi de
constrangimento. A segunda, de dúvida, porque sempre me considerei pardo",
afirmou o estudante.
José Miguel foi com o filho, Michael Silva,
cobrar explicações sobre a reprovação do jovem na cota social da UFPE — Foto:
Marina Meireles/G1
Universidade explica
Uma comissão formada por dois pais e três
estudantes se reuniu com o pró-reitor de assuntos acadêmicos da UFPE, Paulo
Góes, para respostas sobre as demandas. "É importante dizer que isso não
foi criado, estamos cumprindo a lei", disse o representante da
universidade.
Segundo Góes, o procedimento é adotado em
mais de dez universidades federais, mas essa foi a primeira vez que o processo
foi feito na UFPE. Na primeira comissão, os estudantes eram filmados ao dizerem
o próprio nome e assinarem uma autodeclaração racial.
"O critério utilizado para avaliar os
estudantes é de características fenotípicas, ou seja, da cor da pele e da
influência do meio ambiente no candidato", afirma.
Os estudantes que entraram com recursos serão
reavaliados, segundo o pró-reitor. "Queremos que os alunos de primeira
entrada sejam avaliados o quanto antes, até o dia 22 de fevereiro. A
expectativa é de que o procedimento seja realizado em sua totalidade até o dia
30 de março", afirma Góes.
Na próxima avaliação, os candidatos devem
passar pelo mesmo procedimento adotado na primeira, mas por uma comissão
diferente. "É importante dizer que a universidade busca garantir os
direitos de quem tem os direitos", disse.
Marina
Meireles, G1 PE
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