Após
três semanas de estabilidade, Bolsonaro subiu no Ibope de 27% para
impressionantes 31% das preferências do eleitorado. Abriu dez pontos de
vantagem sobre o vice-líder Haddad, que parou momentaneamente de subir. O
desempenho do capitão desafia o prestígio de Lula e, sobretudo a lógica.
Todos
os presidenciáveis ajustam seus discursos e suas táticas. Bolsonaro não. Suas
(poucas) ideias continuam inabaláveis. Sua pregação não se alterou um
milímetro, mesmo depois da facada. Muitos já disseram que a agenda de
Bolsonaro é fascista. Houve quem enxergasse nele até pendores hitlerianos.
O líder deu de ombros. Manteve-se fidel aos seus valores: o moralismo
bisonho, o desprezo pelos signos democráticos, o ódio à imprensa, a segurança
imposta manu militari…
Noutros
tempos a ciência política classificaria Bolsonaro como um candidato inviável. A
sociedade brasileira, com seus valores escrachados e seus princípios flexíveis,
revelava-se majoritariamente refratária à disciplina sanguínea do fascismo. Na
década de 90, o nome de Bolsonaro seria Enéas e seu teto nas pesquisas não
ultrapassaria os 7%.
O
que mudou? Bolsonaro, até ontem um inexpressivo membro do baixo clero da
Câmara, sintonizou-se com os brasileiros atropelados pela economia débil e
afrontados pela roubalheira vigorosa. Sem estrutura, a bordo de um partido de
aluguel, com ridículos 8 segundos no horário eleitoral, ele se impôs perante os
velhos tecelões da política artesanal.
Perdendo
ou ganhando, Bolsonaro consolida-se como principal fenômeno político desde
Fernando Collor. De costas para os partidos, o mercado, a academia e a
imprensa, ele capturou os principais focos de contestação social que se movem à
margem da liderança populista de Lula e do sindicalismo companheiro da CUT.
Parte do tucanato e do centrãozão —versão hipertrofiada do centrão que inclui o
MDB de Michel Temer— corre atrás do prejuízo, aderindo às pressas.
Bolsonaro
chega à beirada da urna como um líder paradoxal. Deputado há 27 anos, vendeu-se
como um oposicionista extraparlamentar, avesso ao sistema. Direitista convicto,
conquistou as massas como uma opção “jurássica” ao clepto-distributivismo da
chamada esquerda.
Assim,
o fato mais inédito na política, a saber, o surgimento de um líder sem a
enlameada plumagem tucana capaz de desafiar o projeto político-criminal de
Lula, parece combinar-se com o desejo de um pedaço do eleitorado de restaurar
uma ilusão de ordem e progresso de inspiração militar.
Repetindo:
a associação do lodo que encobriu a modernidade tucana com o dinheirismo que
sufocou os clichês varguistas do lulismo deram à luz Bolsonaro, uma novidade
feita de resíduos verbais da década de 60.
Um
pedaço do eleitorado ouve o poste de Lula falando num “Brasil feliz de novo” e
chega à conclusão de que o futuro era muito mais feliz antigamente.
Blog
do Josias Souza
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