Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão Conteúdo
O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou nesta quinta-feira, 11,
para uma reunião na casa do deputado Elmar Nascimento (BA), líder de seu
partido, quando foi abordado por colegas que o chamaram de "Senhor
Reforma". Embora o tema do encontro fosse à continuidade da
votação da reforma da Previdência, aliados lhe deram dicas sobre como tornar
sua imagem mais popular e atrair votos até a eleição de 2022. Tratado como
presidenciável por muitos de seus pares, Maia sorriu.
Desde
que conseguiu cumprir a promessa de "entregar" aprovado o texto-base
da proposta sobre mudanças no sistema de aposentadoria, antes do recesso
parlamentar, Maia viu crescerem as apostas sobre uma eventual candidatura à
sucessão do presidente Jair Bolsonaro. Em conversas reservadas, ele não nega a
intenção de entrar no páreo, mas afirma que sabe o seu tamanho e precisa
examinar a posição das "nuvens", que cada dia está de um jeito.
A
aproximação de Maia com o governador João Doria (PSDB) - pré-candidato à
sucessão de Bolsonaro - incomoda o Palácio do Planalto. Nos bastidores do
governo há comentários de que o deputado também pode compor chapa com Doria,
repetindo a dobradinha PSDB-DEM que comanda o Bandeirantes. Em São
Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia é do DEM.
"Você
pode ser o nosso candidato, mas vamos ter de modernizá-lo", disse a Maia o
deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade, na reunião
desta quinta, que teve a presença de ministros e do secretário especial da
Previdência, Rogério Marinho. "Esse cabelinho caindo na testa não vai dar.
Além disso, você precisa sorrir, olhar para o eleitor quando apertar a mão dele
e parar de ficar checando mensagem no celular na hora da conversa",
emendou Paulinho da Força. Após a "receita", arrematou: "E
também falta um programa popular".
De
todas as dicas recebidas, Maia tem investido mais na plataforma, que, segundo
ele, não é de campanha. Depois da Previdência, a ideia é tocar uma agenda na
Câmara que dê prioridade a medidas para destravar o crescimento e retomar o
emprego, como a reforma tributária.
Maia
adotou como mote uma frase que diz ter parafraseado do governador do Rio Grande
do Sul, o tucano Eduardo Leite: "Coragem mesmo precisa quem tem a ousadia
de ser ponderado". Três meses depois de ter dito ao Estado que o
governo Bolsonaro é "um deserto de ideias", ele se movimenta agora
com o objetivo de construir um programa para o País.
'Rodriguetes'
Ao
lado de deputados de primeiro mandato que ficaram conhecidos como
"rodriguetes", o presidente da Câmara decidiu acelerar projetos de
lei sobre modernização do Estado. Alguns já tramitam na Casa e precisam apenas
de alterações pontuais para deslanchar. O pacote inclui melhorias na gestão de
desempenho no serviço público e criação de uma política de governo digital na
União, Estados e municípios.
As
conversas de Maia fluíam bem com o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas,
desde que ele criticou o relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) sobre a
Previdência, o caldo entornou. Até hoje a relação entre os dois está
estremecida. Maia, porém, se reúne quase toda a semana com o presidente do
Banco Central, Roberto Campos Neto. Informado de que famílias com salários de
dois a três mínimos caem com frequência no cheque especial, o deputado quer
aprovar um projeto que reduza a taxa de juros para essa modalidade. Trata-se de
um programa bem popular.
O
placar de votação da reforma, com 379 votos a favor - 71 a mais do
que o mínimo - surpreendeu até o governo. "Nós não teríamos conseguido
chegar até aqui sem Rodrigo Maia", admitiu o líder do PSL na Câmara,
Delegado Waldir (GO).
Para
o ex-ministro Ciro Gomes, candidato derrotado do PDT na disputa presidencial, o
Brasil vive momento de "ressaca política" a partir da aprovação de
novas regras para a aposentadoria. "Essa é uma vitória do Maia, não do
governo. E foi acachapante", argumentou ele.
No
PDT e no PSB, partidos de oposição, 19 deputados votaram a favor da reforma,
contra orientação das cúpulas. "A oposição teve uma lição muito amarga, de
saber o tamanho que tem, para não transformar cada embate em um terceiro
turno", avaliou Ciro, também pré-candidato em 2022. "Nosso papel é
atrair Bolsonaro para o jogo democrático e, no Congresso, ter uma política de
redução de danos, em uma tática de diálogo com Maia."
Questionado
sobre o comentário de Bolsonaro, que o chamou de "general dentro da
Câmara", Maia deu mais uma estocada na direção do Planalto. "Os
generais estão apanhando muito do entorno do presidente. Acho que não é muito
bom ser general nesse momento."
Rosa
Vera/ Terra
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